Curiosidades Educacionais: Elementos da Didática da Matemática

O que é o Contrato Didático?

Na Didática da Matemática, o conceito de contrato didático é fundamental. Você já se perguntou como os professores e alunos estabelecem um acordo sobre o que é esperado de cada um durante as aulas de matemática? Bem, o contrato didático é justamente isso! Trata-se de um conjunto de regras, tanto implícitas quanto explícitas, que regem a interação entre os parceiros didáticos: o professor e o aluno. Libâneo (2013) descreve a Didática como um ramo essencial da Pedagogia, que transforma objetivos sociopolíticos e pedagógicos em metas de ensino. É o momento em que se escolhem os métodos e conteúdos adequados, buscando sempre estabelecer vínculos sólidos entre ensino e aprendizagem.

  • Estabelecimento de regras claras: O contrato didático estabelece desde o início o que é esperado tanto pelo professor quanto pelo aluno durante as aulas. Isso inclui expectativas sobre a participação, a realização de tarefas, a entrega de trabalhos e o comportamento em sala de aula.
  • Metas de ensino alinhadas: Ao definir um contrato, o professor estabelece claramente quais são as metas de aprendizagem para o semestre ou o ano letivo. Isso ajuda a manter a direção e o foco no aprendizado ao longo do tempo.
  • Vínculos entre ensino e aprendizagem: O contrato didático não só determina como o conhecimento é passado, mas também como ele é internalizado pelos alunos. É crucial que o aluno compreenda a relevância do que está aprendendo e como isso se aplica ao mundo real.

A Essência do Contrato Didático

Agora, imagine como seria se não houvesse um acordo claro entre o que o professor espera dos alunos e o que os alunos esperam do professor. Seria caótico, não é? Brousseau (1996, apud BELTRÃO; SOUZA; SILVA, 2010) fala sobre a Didática da Matemática como um campo que investiga as melhores maneiras de ensinar o saber matemático. Ele ressalta a importância do contrato didático para a comunidade científica desde os anos 60, pois ele organiza as interações em sala de aula, delineando o papel de cada um e como o conhecimento matemático é transmitido e absorvido. Sem um contrato claro, os alunos poderiam se perder, não saberiam onde buscar ajuda e teriam dificuldades em entender a lógica matemática subjacente aos problemas. É como se cada aula fosse uma peça de um quebra-cabeça maior, e o contrato didático é a moldura que mantém todas essas peças juntas.

  • Organização das interações: O contrato didático ajuda a estruturar a comunicação e as expectativas em sala de aula. Ele é como um mapa que guia tanto o professor quanto o aluno por caminhos que facilitam o aprendizado.
  • Desempenho dos alunos: Quando as regras e expectativas são claras, os alunos sabem o que é esperado deles, o que melhora a motivação e a disciplina. Eles têm mais confiança para explorar e entender os conceitos matemáticos sem o medo de cometer erros.
  • Alinhamento com o conteúdo: O contrato didático não só define as expectativas, mas também ajuda a alinhar o conteúdo com o desenvolvimento cognitivo do aluno. Ele garante que o conteúdo seja abordado de uma maneira que faça sentido e seja apropriado para o estágio de aprendizado do aluno.

Regulação da Relação Didática

O conceito de contrato didático também é profundamente influenciado por Chevallard (1988, citado por Silva, 1999), que fundamenta essa relação na interação entre o aluno e o professor. Esse contrato não é apenas um conjunto de regras formais, mas sim uma estrutura de expectativas compartilhadas que afeta profundamente como o conhecimento é construído e transmitido na sala de aula. Pommer e Pommer (2013) reforçam que o contrato didático pode ser um aliado ou um empecilho, dependendo de como é gerido. Eles destacam a importância de adaptar o contrato às necessidades individuais dos alunos e do contexto da aula. Se não for bem gerido, pode se tornar uma fonte de frustração tanto para o professor quanto para os alunos, fazendo com que o processo de ensino e aprendizagem seja menos eficaz.

  • Interação aluno-professor: O contrato didático regula as interações entre o aluno e o professor. Ele determina como as respostas, perguntas e ações são conduzidas em sala de aula. Se mal gerido, pode criar mal-entendidos e frustrações que comprometem o aprendizado.
  • Adaptação ao contexto: Cada turma é única, e o contrato didático precisa ser adaptado às suas necessidades. Pommer e Pommer observam que, em uma aula de matemática, o contrato deve permitir uma flexibilidade que ajude a atender os diferentes estilos de aprendizagem dos alunos.
  • Estratégias didáticas: O professor deve estar consciente das estratégias que funcionam melhor com o seu contrato didático. Um contrato flexível permite ao professor ajustar a abordagem conforme as necessidades dos alunos evoluem.

Efeitos do Contrato Didático

Silva (1999) observa que muitas das regras do contrato estão implícitas, sendo seguidas sem questionamento. No entanto, quando essas regras são transgredidas, elas se tornam evidentes, revelando a importância do contrato didático. A cada nova etapa na construção do conhecimento, o contrato é renovado e renegociado, muitas vezes de forma inconsciente. Esses momentos de renegociação são cruciais porque permitem que tanto o professor quanto o aluno ajustem suas expectativas e responsabilidades conforme o conteúdo avança e as necessidades dos alunos mudam. Se o contrato não for bem gerido, podem surgir efeitos indesejados que impactam negativamente o aprendizado. Por exemplo, o ‘efeito topázio’, onde o professor resolve problemas no lugar do aluno, pode inibir a autonomia do aluno. O ‘efeito jourdain’ acontece quando um comportamento comum dos alunos é interpretado como uma manifestação de sabedoria, o que pode levar a um desafio inadequado. O ‘efeito de escorregamento metacognitivo’ ocorre quando a ênfase nas técnicas eclipsa a verdadeira compreensão do conteúdo. E o ‘efeito do uso abusivo de analogias’ acontece quando uma analogia é usada em vez de uma abordagem direta ao conceito matemático, prejudicando a profundidade da aprendizagem.

  • Efeito topázio: Acreditar que resolver os problemas no lugar do aluno pode ser uma boa ideia para acelerar o aprendizado, mas isso acaba criando uma dependência, fazendo com que os alunos não desenvolvam a capacidade de pensar por si mesmos.
  • Efeito jourdain: Esse efeito ocorre quando os comportamentos normais dos alunos são interpretados como sinais de grande inteligência ou conhecimento, o que pode levar a desafios inadequados e ao desestímulo dos alunos.
  • Efeito de escorregamento metacognitivo: Focar em técnicas sem entender verdadeiramente o conceito subjacente pode levar a um aprendizado superficial. A metacognição é essencial para aprofundar a compreensão dos alunos.
  • Efeito do uso abusivo de analogias: Quando uma analogia substitui o estudo de um conceito mais complexo, os alunos podem não desenvolver uma compreensão completa e verdadeira do conteúdo. É crucial que as analogias sejam usadas de forma complementar e não substitutiva.

Renegociação Contínua do Contrato Didático

A cada nova etapa na construção do conhecimento, o contrato didático é renovado e renegociado. Isso é um processo natural e essencial na educação, permitindo que tanto os professores quanto os alunos ajustem suas expectativas conforme o conteúdo avança e as necessidades dos alunos mudam. Silva (1999) destaca que muitas regras do contrato estão implícitas e são seguidas sem questionamento, mas em certos momentos, especialmente quando o contrato é transgredido, ele se manifesta com força. É como um ajuste fino que garante que o processo de aprendizagem não perca sua eficácia. Quando o contrato didático está bem adaptado, ele contribui significativamente para a qualidade do ensino e para o desenvolvimento dos alunos, proporcionando um ambiente educacional mais enriquecedor e produtivo.

  • Renovação constante: O contrato didático não é algo fixo, ele evolui à medida que os alunos avançam no conhecimento e enfrentam novos desafios. A renovação contínua permite ajustar as expectativas para melhor atender às necessidades individuais e coletivas.
  • Flexibilidade: O professor deve ser capaz de ajustar o contrato didático para acomodar diferentes estilos de aprendizagem e necessidades dos alunos. Isso pode incluir mudanças na abordagem metodológica ou nos recursos utilizados.
  • Melhoria do ensino: A renegociação do contrato didático é uma oportunidade de melhorar a eficácia do ensino. Ao ajustar as regras e expectativas, o professor pode fornecer um ambiente mais adequado para o aprendizado e desenvolvimento dos alunos.

Importância do Contrato Didático na Educação Matemática

O contrato didático é especialmente relevante na educação matemática, onde a interação entre o professor e o aluno desempenha um papel crucial no desenvolvimento do conhecimento matemático. Pommer e Pommer (2013) discutem como esse contrato pode contribuir ou dificultar o processo de ensino e aprendizagem em matemática, dependendo de como ele é gerido. Eles argumentam que o contrato didático na matemática deve ser claro, flexível e adaptável às diferentes necessidades dos alunos. Isso implica que o professor deve estar ciente das condições em que o contrato funciona bem e estar disposto a ajustá-lo conforme necessário. Um contrato didático claro e bem gerido em uma aula de matemática pode proporcionar um ambiente de aprendizagem mais produtivo e colaborativo, permitindo que os alunos saibam o que se espera deles e o que podem esperar do professor. Isso não só melhora a motivação dos alunos, mas também ajuda a manter a disciplina e a estrutura na sala de aula.

  • Clareza e Flexibilidade: O contrato didático na educação matemática precisa ser claro e direto, mas também flexível para se ajustar às necessidades de cada grupo de alunos. Isso ajuda a manter o foco e a relevância do aprendizado, garantindo que o conteúdo seja apropriado para os diferentes níveis de habilidade.
  • Adaptação às necessidades dos alunos: O professor deve estar atento às necessidades específicas dos alunos e ajustar o contrato didático para atender a essas necessidades. Isso pode envolver a introdução de métodos de ensino alternativos, como a resolução de problemas, que incentivam o aprendizado ativo e a compreensão profunda.
  • Colaboração entre professor e aluno: Um contrato didático eficaz em matemática facilita uma comunicação aberta e colaborativa entre o professor e os alunos. Isso cria um ambiente onde os alunos se sentem mais à vontade para fazer perguntas e buscar ajuda, tornando o aprendizado mais acessível e envolvente.

Conclusão

Em resumo, o contrato didático é essencial para gerenciar as responsabilidades entre professor e aluno na educação matemática. Ele depende das estratégias didáticas utilizadas e deve ser adaptado a diferentes contextos para evitar mal-entendidos e fracassos escolares. É fundamental que tanto professores quanto alunos compreendam e renegociem o contrato didático constantemente, ajustando-o conforme necessário para garantir uma aprendizagem efetiva. Quando bem gerido, o contrato didático contribui significativamente para o desenvolvimento do conhecimento e habilidades dos alunos, proporcionando um ambiente educacional mais enriquecedor e produtivo.

Referências:

ALMEIDA, F. E. L.; LIMA, A. P. A. B. Os efeitos de contrato didático na sala de aula de matemática. In: XIII CONFERÊNCIA INTERAMERICANA DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, 2011. Anais... [recurso eletrônico]. Disponível em: . Acesso em: 24 mar. 2019.

BELTRÃO, R. C.; SOUZA, C. M. P.; SILVA, C. P. S. Contrato didático e suas influências na sala de aula. Educação Matemática Pesquisa, v. 12, n. 2, p. 335-353, 2010. Disponível em: . Acesso em: 24 mar. 2019.

LIBÂNEO, J. C. Didática. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2013, 288 p.

POMMER, W. M.; POMMER, C. P. C. R. O contrato didático na sala de aula de matemática. In: V SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, 2013, Nova Andradina. Anais... [recurso eletrônico]. Disponível em: . Acesso em: 24 mar. 2019.

SILVA, B. A. Contrato Didático. In: MACHADO, S. D. A. et al. (org). Didática da Matemática: uma introdução. São Paulo: Moderna, 1999, p. 45-57.


Última atualização em: 14/12/2024